Meu tributo a Maurice Capovilla, Gérson Tavares e ao mais belo Tarzan da tela

Assisti somente neste ano, como parte de uma homenagem a Carlos Reichenbach, a seu Audácia! A Fúria dos Desejos, de 1969. Uma jovem diretora, sonhando com o primeiro filme, entrevista os talentos da Boca do Lixo paulistana. Num circo cenográfico, ou que assim parece, Maurice Capovilla ensaia uma cena de O Profeta da Fome, com José Mojica Marins. Capovilla! Não creio que alguma vez tenha falado com ele, mas conhecia sua obra. Capô morreu no fim de semana passado – sábado, 29 -, no Rio, aos 85 anos. Em meados dos anos 1960, seu curta Subterrâneos do Futebol, integrou o filme coletivo Brasil Verdade. Morava em Porto Alegre, e me lembro que, embora Subterrâneos e Memórias do Cangaço, de Paulo Gil Soares, fossem considerados as pérolas do longa, fiquei impactado com Viramundo, de Geraldo Sarno, que permanece, para mim, independentemente do formato curta, como um dos grandes filmes do cinema brasileiro.

Capô partiu para o longa – Bebel, Garota-Propaganda, baseado em Bebel Que a Cidade Comeu, de Inácio de Loyola. Rossana Ghessa como a garota popularizada no mundo da publicidade por uma propaganda de sabonete. Sua trajetória descendente na cidade grande, até ser rifada num cabaré ordinário. A memória registra um formato interessante, em capítulos – meio jornalismo, ou cinema verdade -, dando caráter de urgência à trama. Não falta nem a figura de um entrevistador para comentar a ação. Seguiram-se, com anos de distância entre uns e outros, O Profeta da Fome, Vozes do Medo (um episódio), As Noites de Iemanjá, O Jogo da Vida – baseado em João Antônio – e O Boi Misterioso e o Vaqueiro Menino, o único que nunca vi.

O Profeta – José Mojica Marins, que já era Zé do Caixão, como o faquir que a cidade comeu. O filme possuía uma riqueza alegórica muito grande, e aquele circo com certeza incorporava elementos do udigrudi e do tropicalismo – na cenografia, mais do que no tom. Malagueta, Perus e Bacanaço – a adaptação de João Antônio põe na tela o mundo da sinuca. Homens e mulheres das bordas, os que a metrópole rejeita. Se não é o tema dominante da obra de Capovilla, a antropofagia faz-se presente em seus melhores filmes. Já estava em Subterrâneos do Futebol. O jogador como mercadoria. Outra morte que me merece registro, a de Gérson Tavares, que morreu dias antes de Capô – dia 25 de maio, aos 95 anos. Esse deve sua fama quase exclusivamente a um só filme, o segundo que dirigiu, baseado em Carlos Heitor Cony. Antes, o Verão é de 1968, contemporâneo de obras que pertencem à história.

As Amorosas, O Bandido da Luz Vermelha, Fome de Amor, Jardim de Guerra, O Quarto, Viagem ao Fim do Mundo, Vida Provisória. Não se assemelha a nenhum deles. Um casal, Jardel Filho e Norma Bengell. Ele constrói a casa de praia para ser o símbolo do seu sucesso na vida. A pressão do sogro poderoso, a deterioração do casamento. E tudo se passa nas praias selvagens de Cabo Frio, entre adultérios – reais e imaginados -, e até a investigação de um assassinato. Nunca revi Antes, o Verão, que já tem mais de 50 anos – 53. Guardo a lembrança de uma Norma belíssima e de uma fotografia em preto e branco – de João Rosa – que acentua as estações. O verão do amor ficou no passado, o casal conseguirá se reconciliar? Pode parecer loucura, mas no meu imaginário, a lembrança que tenho associa o filme de Gérson Tavares às praias invernais de Valerio Zurlini e Ingmar Bergman – aos primeiros filmes do mestre sueco na ilha de Farö.

Mais uma morte, a de Joe Lara, aos 58 anos. O mais belo Tarzan da tela – era um assombro. Ele morreu na segunda, 31, num acidente aéreo, quando caiu o avião em que viajava com a mulher, perto de Nashville, no Tennessee, onde tentou uma segunda carreira, como cantor country, após o fim do ciclo como rei da selva. Ela, Gwen Shamblin Lara, era uma pastora (religiosa) que ficou famosa nos EUA pelo que chamava de ‘dieta de Cristo’. Não está sendo um ano bom para o herói criado pelo escritor Edgar Rice Burroughs – em 8 de janeiro, aos 84 anos, já havia morrido outro intérprete do papel, Mike Henry.

Autor: Luiz Carlos Merten

jornalista

Uma consideração sobre “Meu tributo a Maurice Capovilla, Gérson Tavares e ao mais belo Tarzan da tela”

  1. Amigo… Sua mente é poderosa… Fico lendo e catando as referências cinematográficas. Nunca tinha ouvido falar de Gérson Tavares e nem da adaptação do livro do Cony (que tanto lia e gostava). Será meu filme de amanhã — vejo um filme por dia (minha liturgia há quase 2 anos). E o Capovilla… Não tinha sabia da morte dele, não vi em jornal.

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