Oxe! Perdi-me na data, mas, para dizer a verdade, nem sabia que Quentin Tarantino completou na segunda, 27, 60 anos. Escrevi, para uma editora gaúcha – a Artes e Ofícios -, um livro comemorativo do centenário do cinema. Dei-lhe o título ‘Cinema – Um Zapping de Lumière a Tarantino’. Meu amigo Walter Hugo Khouri disse que eu iria arrepender-me. Desde a primeira hora, ele achou Tarantino uma excrecência. Para quem amava Ingmar Bergman, como ele, era mesmo. Já contei, mas acho que vale repetir. Estava em Cannes, em 1992. Havia visto sei lá que filme. Encontrei o saudoso Paulo de Góes, que me convidou a ver esse filme, Cães de Aluguel, que, segundo ele, estava sendo bem falado em Hollywood. Vimos. Paulo insistiu para que fôssemos à coletiva. Tarantino ainda não era ninguém. Havia meia-dúzia de pessoas na sala. Fizemos um círculo com as cadeiras, foi uma das coletivas mais informais de que participei na vida. Dois anos depois, Tarantino voltou a Cannes e ganhou a Palma de Ouro por Pulp Fiction – Tempo de Violência. Já era uma celebridade cannoise.
De alguma forma terminei por dar razão a Khouri. Quando a Artes e Ofícios me informou que o livro vendia bem e seria reeditado, recusei. Estava encantado com Baz Luhrmann, Moulin Rouge, o cinema estava em pleno processo de mutação com as novas tecnologias. Ofereci escrever outro livro. Eles aceitaram, mas havia um prazo exíguo. Um deadline de semanas, um mês, talvez. Escrevi voando Cinema – Entre a Realidade e o Artifício. Tarantino iniciou uma revolução no cinema norte-americano, disso não tenho dúvida. O diálogo taco no taco, as digressões, a violência. Gostei de Jackie Brown. Lembro-me que a Miramax fez uma grande festa no salão principal do Hotel Carlton para mostrar cenas de Bastardos Inglórios. Tarantino começava a reescrever a história. Adolf Hitler morria naquele cinema em Paris. Anos depois, em Era Uma Vez em Hollywood, Brad Pitt conseguia evitar o assassinato de Sharon Tate.
Tarantino e os Weinstein. Em Cannes eram colados. Não creio que ele não soubesse do comportamento abusivo de Harvey. Talvez não quisesse – ver, saber. Khouri tinha razão. Sacou, antes de mim, que terminaria por me desinteressar de Tarantino. Seus filmes ingressaram numa curva descendente – Kill Bill 1 e 2 – apesar da luta de Uma Thurman e Daryl Hannah no trailer -, Bastardos, Django Livre, Os Oito Odiados, Era Uma Vez. Tarantino veio a São Paulo para lançar Os Odiados. Na entrevista – individual – Tim Roth e ele estavam juntos. Foram insuportáveis. Não sei se estavam drogados, mas riam o tempo todo, fazendo piadinhas entre eles. Sempre tive a impressão de que, se os tivesse entrevistado numa junket, em Hollywood, teriam reagido diferentemente. Teriam sido profissionais. Aqui, era algo como o c… do mundo para eles. Talvez decepcione Fábio Lima com esse post. Ele não apenas lembrou o aniversário, como me pede para falar de cenas marcantes dos filmes de Tarantino, de suas trilhas. Ennio Morricone, claro. A cena? A morte/punição de Samuel L. Jackson como aquele preto sem consciência de Django. Quando ele vai, já vai tarde, o fdp.
Daqui a pouco estarei saindo de casa para a cabine de Pacifiction. Gosto tanto de Albert Serra. E o Benoit Magimel foi melhor ator no César, o Oscar francês. Hoje tenho de dar um jeito de ver Skinamarink – Canção de Ninar. Daqui a pouco começarão as cabines do É Tudo Verdade, e a prioridade serão os documentários. Antes preciso saldar o que, para mim, já virou dívida. Entrevistei Rafael Primot, Júlia Lemmertz e Leona Johvs pela série dele no Canal Brasil, Chuva Negra e ainda não publiquei nada. Sigo de castigo no jornal. Ainda bem que tenho o blog.