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Melou o Cantando na Chuva, mas tem o Elvis (em Cannes!) e a terceira via do É Tudo Verdade (6)

Renato Félix assinala um erro no texto sobre os seis motivos para gostar de Cantando na Chuva – o título de um número musical – e me faz uma pergunta que, he-he, considero irrespondível, sobre os cortes – a montagem – de Vincente Minnelli em Sinfonia de Paris/An American in Paris. Mas talvez a pergunta não seja tão irrespondível assim. Em 1951, Sinfonia de Paris recebeu o Oscar de melhor filme, mas não o de melhor direção. A estatueta foi para Um Lugar ao Sol, a adaptação do romance de Theodore Dreiser por George Stevens, um diretor reputado justamente pela montagem de seus filmes. A academia preferiu os cortes de Stevens? Fui pesquisar na Bíblia – The Academy Awards Handbook – e está lá. Best editing para William Hornbeck, por… A Place in the Sun!

Gosto tanto de Minnelli, nem me lembrava dessa heresia. Quando assinalei que gosto muito das reações, os comentários, sobre meus textos antigos é um pouco por isso. Me fazem pensar, refletir. Ninguém escreve há mais de 50 anos numa área tão volátil quanto o pensamento crítico sem cair em contradições. Lembro-me de André Bazin, citado por não sei quem. Ele falava de determinado filme, dizia que ia contra tudo o que conceituava em O Que É o Cinema?, mas ele havia gostado, fazer o quê? No texto de abertura – a introdução – para Os seis motivos, falo de outro número musical. The Lady Loves Me, que Elvis Presley canta em dueto com Ann-Magret em Love in Las Vegas/Amor a Toda Velocidade, de George Sidney. Poderia ter aproveitado a lembrança para dizer que recebi a confirmação do credenciamento para o Festival de Cannes – agora é ir – e também recebi do festival um comunicado que, por si só, justificaria minha ida. Em 2001 não estava lá, quando Baz Luhrmann apresentou Moulin Rouge. A Satine de Nicole Kidman, o cinema entre a realidade e o artifício. Escrevi um livro com esse título só por causa de Moulin Rouge. Ewan McGregor, Nature Boy. There was a boy, a very strange enchanted boy. Luhrmann estará de volta a Cannes, em maio, com outro strange, enchanted boy. Elvis! Procurem o trailer no YouTube. É genial.

Quero dizer que, aos 45 do segundo tempo, surgiu na competição brasileeira do É Tudo Verdade o provável vencedor do troféu criado pelo artista visual Carlito Carvalhosa. Continuo preferindo Sinfonia de Um Homem Comum e Pele, mas a terceira via do longa veio com Heloisa Passos, e Eneida. A autora filma a própria mãe, tentanfo reatar a ligação com a filha de quem se afastou no passado. Mulheres no cipoal das ligações familiares. A identidade feminina é um tema que está em toda parte. A identidade negra, a identidade LGBTPIA+. Já falei aqui no blog que raramente saio de casa às sextas-feiras à noite, ou pelo menos faço questão de estar de volta antes das 22 h, para assistir ao Estação Livre de Cris Guterres. Por meio dela tenho ouvido a voz da periferia e descoberto escritores, compositores, cantores, artistas negros com consciência do fazer, e da negritude. O programa ontem completava um ano. Parabéns!

Volto a Eneida. O filme deve chegar aos cinemas em junho. Difere, mas tem a ver com outros filmes em cartaz nas salas e que abordam a maternidade. Minha crítica do Nanni Moretti deve ter saído no Estado deste sábado. Gostei demais do ‘novelão’, como um amigo o definiu, do Nanni. Três famílias, e numa delas a mulher sofre de depressão pós-parto. O marido vive distante, trabalhando, Alba Rohrwacher – que faz so papel – é levada ao limite. Não conto o que ocorre. O outro filme é Mar de Dentro, de Dainara Toffoli, que quer discutir a maternidade numa outra perspectiva. Discuti com a diretora certas particularidades de seu filme. Meu olhar masculino não deglitiu muito bem que tudo tenha de dar errado, como se o filme estivesse desenvolvendo uma tese – a matéria estará no Estado, no começo da semana. Seu filme é bem feito, bem interpretado.

Para Dainara, não é uma questão de patologia, mas de estatística. Um percentual imenso de mulheres tem dificuldade para conciliar a dupla e a terceira jornadas, outro tanto perde o posto no mercado do trabalho após a licença-maternidade. É um tema que bate fundo nas mulheres. Eneida! Heloisa inicia seu filme na estrada, em meio à neblina. A busca, uma busca. Muitas vezes mais a paisagem aparecerá borrada, pouco visível. Tem a ver com ‘a história’, com o que afastou mãe e filha. O filme envolve religião – judaica -, distâncias intransponíveis. Chega a uma solução, quando parece que a neblina se dissipa, mas não é necessariamente… Esperem para ver, ou vejam hoje no streraming do É Tudo Verdade. O mais curioso. Na apresentação do filme, Heloisa disse que José Joffily – que concorre com ela na categoria – foi seu professor. Muito interessante.

Já disse que estou louco para que o É Tudo Verdade termine e eu possa ver algumas – muitas? – peças em cartaz. Gabriel Villela está no Festival de Teatro de Curitiba com o Cordel do Amor Sem Fim. Dia 28 ele estreia Henrique IV. Antes disso, recebi a confirmação de que Eduardo Tolentino estreará Papa Highirte no dia 21, ou 22. O jornalista de cinema está louco para ver todas essas coisas boas que estão pintando no teatro paulistano, além de tudo o que já está em cartaz. Tennessee Williams?

Autor: Luiz Carlos Merten

jornalista

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